Última gota
Já faz muito tempo desde a última vez em que escrevi algo totalmente da
alma, já faz muito tempo que meus dedos conseguiram demonstrar todo meu
sentimento.
E devo dizer que esse tal bloqueio na escrita tem me perturbado nos
últimos meses e, na verdade, ultimamente há tanto dentro de mim que não estava
sendo possível extravasá-lo. Até agora.
A última gota de meu balde está prestes a cair e em câmera lenta eu
consigo enxergar como num filme tudo aquilo que me fez mal e por mais que eu
queira, não há mais o que ser feito. Espero pelo momento em que ele finalmente
derrame e eu possa reconstruir do zero, que eu possa sair berrando pelas ruas
agradecendo por não precisar cultivar todas as minhas mágoas, dores e tristezas
e poder soltá-las de uma só vez.
Almejo um dia em que eu possa ficar vermelha em uma conversa infinita com
a mesma pessoa, que o frio na barriga permaneça, que os arrepios de escutar sua
voz seja constante. Almejo um dia que eu possa libertar a eterna criança que
vive em mim e sair pulando pelas ruas como se não houvesse o amanhã, fazer
bigode com suco de abacaxi e dar risada disso, sujar a roupa inteira de sorvete
e achar a melhor coisa do mundo, cantar a música preferida totalmente
desafinada e achar graça. Almejo um dia em que meu sorriso seja sincero e eu
seja ao menos por vinte quatro horas a pessoa mais feliz do mundo.
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